O meu primeiro livro veio antes do primeiro amor chegar e antes da chupeta ir embora. Sim deixei a chupeta um pouco velha e lembro-me dela comigo enquanto eu lia um livrinho de um ratinho que tinha medo de escuro.
Lembro bem de uma grande curiosidade com os livros, mesmo sem lê-los, me fascinava as altas estantes de livros, gostava de bancar a alpinista nas prateleiras da minha mãe. Me encantava a poeira nos livros, que parece fazer parte da história que está escrita neles, sem falar na mágica sincronia perfeita e desordenada feita pelos livros nas prateleiras, um de cada tamanho, enfileirados, altos, baixos, magros, gordos com tantas páginas. Se não fossem as biblioteconomistas diria que os livros organizam-se sozinhos, na sua própria lógica.
A idéia de escrever sobre a leitura e os livros veio a mim no fim de semana, quando comecei a ler um livro com crônicas do João do Rio, que escreve sobre a cidade de forma tão poética e visceral, fala das ruas de forma tão humana! Eu sempre quis ler essas crônicas, até que finalmente esse encontro aconteceu. Gosto de pensar que nós, os livros e seus autores dependemos de algumas manifestações do destino, esses encontros tem que acontecer uma hora ou outra, por uma coincidência ou pelas mãos de uma pessoa especial, ou alguém muito determinado a mudar sua vida com a indicação de um livro. Mas é fato que os livros chegam até nós como truque do destino.
É um grande acontecimento quando temos a enorme deleite de adentrar em um universo nunca antes imaginado, conhecer pessoas das mais diversas personalidades, adentrar a vida delas sem pedir permissão e participar de tudo sem estar olhando o buraco da fechadura. Quando abrimos um livro estamos entrando em um novo mundo, sendo ele sobre o que for. É fato que depois de lê-lo não somos mais os mesmo. Alguma coisa aprendemos com as leituras, daquelas páginas sugamos sua essência, sua arte, sabedoria, criatividade, nada é mais a mesma coisa depois da leitura de um livro.
Eu queria poder ter esse encontro com todos os autores, leio pelo menos um livro de cada autor para ter a falsa impressão que tenho conhecimento sobre eles. Lendo apenas um livro do Jorge Amado é como se já tivesse apertado sua mão, ter lido muitos da Agatha Christie sinto como tomasse um chá com ela a cada livro, é como se eu tivesse participado de longos debates teóricos com Rousseau e Maquiavel, sei que brinquei com Ziraldo e ouvi a própria Cecília recitar suas poesias para mim. Sem falar de três encontros emocionantes com Gabriel Garcia Márquez que me tiraram o fôlego. E agora que terminei a introdução do livro do João do Rio já sinto que perambulo com ele pelas vielas e becos do Rio de Janeiro do início do século passado.
Gosto dos livros perto de mim, mesmo se não vou ler todos eles, adoro a surpresa que esta dentro deles, dos segredos que guardam e tudo que tem para me revelar, gosto de ter a impressão que eles estão me olhando, estáticos, em seus lugares, esperando a hora que vou procurar por eles ,quando chegar o nosso momento de nos encontrar.