sábado, 12 de março de 2011

Cinzas de carnaval

Lá se foi o carnaval e assim como lhe dei eufóricas boas vindas me despeço dele e de suas plumas, paetês e cinzas.
Você se permitiu como sugeri no ultimo post? Permitiu se fantasiar, inovar, provocar, “se jogar” como dizem os populares? Se sua resposta foi sim, feliz ano novo para você que lavou a alma e sujou os pés, chinelos e tênis nas poças deixadas pelas chuvas, que foi persona non grata nesse carnaval.
O clima fantasiou-se com um céu parcialmente nublado, cinza sem brilhos ou paetês e com a danada de uma chuvinha. Mas quer saber? Ela nem abalou os foliões, ê povo que gosta de pular!
No centro da cidade a indústria das escolas de samba do carnaval deu seu show tão esperado.  Ao fim de todo o espetáculo com direito a homens que perdiam suas cabeças, fantasias e alegorias que brotaram das cinzas, King Kong comendo Valeska, mesmo com todas as atrações a indústria só é incapaz de inovar e nos surpreender com os resultados finais.
Qual é a linha de produção que conduz e controla essa indústria? Fordismo? Taylorismo? Picaretismo? Corrupcionismo?? 
 
Saúdo a massa de manobra responsável por colocar um carnaval bonito para turista ver, essa talentosíssima mão de obra que viaja de trem, ônibus e metro para fazer os dois dias desse espetáculo.
Aplaudo os grandes artistas, artesãos, os que arquitetam o carnaval com suas mentes fantásticas e sem limites.
Acho o fim da picada os donos das fábricas e os investidores. Os senhores investidores dessa indústria transformaram beleza, arte e tradição em máquina de lucro, em galinha dos ovos de ouro.
Na contra mão das escolas de samba desponta de toda região da cidade uma nova linha de produção, surgem os blocos de rua. Eles podem não fazer concorrência com a indústria carnavalesca, mas aparecem no cenário cultural-economico como alternativa para os que fogem ou não tem como financiar uma participação no carnaval de elite.  
 
Os blocos de rua carregam por trás de sua euforia uma bela historia das ruas, seus antepassados eram os cordões de carnaval embalados pelas marchinhas de Chiquinha Gonzaga, e tempos depois Braguinha também embalou os pulos dos foliões.
Os blocos antes tinham a participação especial de colombinas, pierrôs, arlequins, mascarados, reis, rainhas, hoje recebem fantasias das mais criativas, tem lugar para as clássicas bruxinhas, palhaços, piratas, baianas, às inovadoras como cisne negro, surfista prateado, ambulante, Bope! Abusar da criatividade é a ordem!
Que essa nova fábrica de proporcionar alegria não se renda ao sistema e coloque um cordão de isolamento que separe os foliões que usam abadas e os que não o compram..Não vamos uniformizar as pessoas! Que os abadas não tomem conta do nosso carnaval como aconteceu na Bahia.!Que possamos sempre nos fantasiar, customizar e criar personagens com os retalhos e cetins que temos a mão!
Que nossa liberdade de expressão e criação não seja oprimida pela padronização como aconteceu com os carnavais das escolas de samba. Em 2012 quero ver um carnaval cada vez mais livre e uma cidade bem organizada por aqueles que vivem a fazer propaganda e exigir de nós nossa atitude de cidadão, porque o resto é a alegria de cada um.

2 comentários:

  1. Pena, mas acho que é melhor você se desanimar, pois padronização e comercialização é o futuro de toda e qualquer cultura. A mídia impera e só cabe a moda formatar e pasteurizar dizimando origem e originalidade que, na real, já não existem... nem nos blocos!

    Beijos!

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  2. Muito bom o texto, Nathália!

    Eu sou mais otimista que o André, ainda acredito na força dos blocos em resistirem a baianização, ou padronização do carnaval. Mas é claro, tentativas de controle, de formatação para uma melhor adequação aos GRANDES interesses, isso tem e deve aumentar. Mas devemos contar com a resistência, com aqueles blocos que enchem, mas cujas bandas levam multidões no sopro natural, sem caminhões de som; nas alternativas criadas pelo povo criativo (afinal, temos que ter espaço para o novo também!).

    Acho que todo esse movimento nos faz pensar em modelos de cidade, serviços públicos, sociabilidade, dia a dia. Bons frutos podem sair de toda essa festa... ou só eu perco tempo pensando nessas coisas?

    Um beijo, foliã!

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