quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Gosto de adeus

Hoje o dia está se fazendo em adeuses. Adeus eu, adeus tu, adeus nós, adeus lugar. O fim do ano carrega a responsabilidade de dar conta de um ano inteirinho, das despedidas, das desculpas, das reconciliações, dos reencontros.
Esse fim de ano está com os ombros pesados, cheio de responsabilidades e obrigações a serem cumpridas antes da meia-noite do dia trinta e um.
Ao mesmo tempo ele é a nossa segunda chance, porque é nos quinze do segundo tempo que vamos acertar nossos ponteiros, tentar deixar nos eixos o que a falta de tempo não nos deixou fazer durante todo ano.
Não sei se só eu sinto essa melancolia transvestida de felicidade, de euforia que surge no fim do ano. Eu sinto essa melancolia impregnada nas propagandas de fim de ano, no Roberto Carlos cantando o jingle de natal da Globo, nos shoppings entupidos. A nossa sorte é que nascemos em um país tropical, aonde não tem neve para nos deprimir mais ainda, pelo contrário, temos o sol, e o prenúncio de uma temporada cheia de energia, cores e insolação.  

Hoje ó dia está se fazendo em adeuses. Adeus rua, adeus palmeiras, adeus açaí com pão de queijo. Até o bife de filé mignon do almoço tava com gosto de último. Quase falei com o rapaz  que frita os bifes “Olha, vê se capricha que hoje é a última vez que eu como aqui!”, como se ele fosse se compadecer da minha ausência pelo próximo ano. No restaurante comi o meu predileto, o bife com batata doce, combinação que eu mesma criei e me viciei. Em homenagem ao dia comi com muito gosto, gosto que não vou mais sentir daqui a pouco.

Hoje o dia está se fazendo em adeuses. Até o 435 chega a dar saudade, a correria do meio dia. Sou muito apegada às coisas, até do que eu não gosto eu me apego e sinto falta depois. Acho que tudo que faz parte do nosso dia a dia, do nosso cotidiano, mesmo que chato ou ruim, quando se acaba abre-se um vácuo, um espaço que precisa ser novamente preenchido. Eu sentia uma dor nas costas horrível há uns anos atrás, tomava remédios, fazia fisioterapia, entrei na yoga para melhorar, e quando finalmente me vi livre dela me bateu um vazio imenso, senti falta da rotina, senti falta do que é habitual. Senti falta do que reclamar.

Sinto falta de coisas comuns. Sinto falta do que me é comum. Sinto falta do que me faz sentir nem tão comum.




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