Ontem à noite fui convidada por uma amiga a assistir um espetáculo em Cartaz no Oi Casa Grande, no Leblon. “Um violinista no telhado” em sua versão original foi um grande sucesso na Broadway por muitos anos e conta a história de judeus que vivem em uma aldeia, praticamente isolados do resto da Rússia czarista em 1905. Parece um enredo triste e sombrio, mas não é. O título da peça é explicado logo no início pelo personagem principal, o leiteiro Tevye, na tradição judaica o violinista fica no telhado tocando seu violino para representar o equilíbrio, os deslocamentos e instabilidade que o próprio povo judeu atravessa em toda a sua trajetória na história.
Mas eu não sabia nada disso até minha amiga surgir com dois ingressos e me convidar para peça. Eu prontamente aceitei, fazia bastante tempo que não ia ao teatro. E perguntei “Qual peça?” “Ah sim! Já ouvi falar sim, obviamente que sei que se trata de uma peça importante, só não sabia que estava em cartaz no Brasil”.
Chegando ao Teatro olho para o cartaz do espetáculo leio os nomes de José Mayer e Soraya Ravenle “eles estão na peça?”-pensei alto, me dei conta que não sabia nem quem atuava na peça, nem os protagonistas e nem os outros 60 atores, desconhecidos pelo grande público.
Já sentadas, minha amiga disse que se tratava de um musical-“É um musical??" - indaguei surpresa- “Eu adoro musicais!!”. Esta era outra informação crucial que eu não tinha sobre o espetáculo.
Pouco antes de o espetáculo começar sussurro no ouvido dela, “mas sobre o que é essa peça?”, a luz se apaga, e entre a minha pergunta, o silêncio dela e a cortina se abrindo, eu percebi que nada sabia sobre o que eu estava prestes a conhecer.
O único pensamento que passava pela minha cabeça repetidamente enquanto os atores cantavam, dançavam e interpretavam era que as pessoas precisavam ver aquilo. No intervalo da peça eu dizia isso para minha amiga, que mãe, pai, irmão, papagaio e periquito deveriam ter o mesmo privilégio que eu estava tendo.
Mas eles não teriam, e eu não teria se não estivesse a convite de alguém. A maioria da nossa população- me refiro tanto a grande massa, quanto uma classe média sem tanta possibilidade de acesso- são constantemente acusados e julgados como desapreciadores da arte e da cultura. Segundo os porta vozes da Nação, o povo não se interessa pela história, pela nossa cultura, nosso folclore, pela leitura e arte em geral. “O povo é ignorante!”. “O povo é insensível!”. “O povo é aculturado!”. “O povo só têm ouvidos e olhos para o funk e o Big Brother!”.
Mas eu ouso afirmar, com grande convicção, que o povo gosta, se identifica com a cultura, porque não tem como não gostar. Enquanto eu assistia ao espetáculo ontem, me emocionei por várias vezes, e pensei quem não se emocionaria com tamanha beleza e originalidade?
Não é que o povo não goste da arte, é que o povo não conhece a arte. Arte custa caro. Pois quando não custa, quando é barateada para comunidades e afins terem algum acesso à ela, a arte é capaz de transformar, ela encanta, ela realmente se define como arte, e aqueles que vivem tão à margem dela são capazes de se identificar.
Eu não me encantei pelo espetáculo e o apreciei enquanto arte porque sou universitária e tenho acesso aos centros culturais e leio livros, não é por isso! A razão da minha emoção é que sou humana, e nós humanos somos padecidos do dom da sensibilidade. E, é esta que nos conduz a enxergar o que há por trás de uma obra de arte, de um belo filme, uma peça de teatro, uma interpretação. Não precisa ser rico para saber que algo é bom. Às vezes, algumas pessoas não desenvolvem sua sensibilidade apreciativa exatamente por não ter acesso as belezas produzidas na cultura.
Eu não me encantei pelo espetáculo e o apreciei enquanto arte porque sou universitária e tenho acesso aos centros culturais e leio livros, não é por isso! A razão da minha emoção é que sou humana, e nós humanos somos padecidos do dom da sensibilidade. E, é esta que nos conduz a enxergar o que há por trás de uma obra de arte, de um belo filme, uma peça de teatro, uma interpretação. Não precisa ser rico para saber que algo é bom. Às vezes, algumas pessoas não desenvolvem sua sensibilidade apreciativa exatamente por não ter acesso as belezas produzidas na cultura.
A distância que a produção de cultura e o governo fazem entre o que é produzido e a massa é que impede cada vez mais o reconhecimento da cultura como algo apreciável e bom para eles. Elitizar a cultura assassina as pessoas, as deixam ainda mais carentes e inferiorizadas, a conseqüência disso são as notícias de jornal e que mais tarde viram enredo para a dramaturgia corrigir.
Parabéns pela sua visão referente à cultura.
ResponderExcluirÉ uma pena que nós estejamos vulgarizando a educação em nosso país, tanto nas escolas como nos lares, fazendo com que a cultura efetiva passe a ser negligenciada pelas famílias, círculos sociais, etc. Daí, ela se torna vazia, praticamente inexistente, quando não acaba sendo ridicularizada.
Gostei muito da sua sinceridade e das posições que coloca. Mais uma vez, só posso parabenizá-la.
Nelson Roberto - Psicólogo e Psicanalista.