domingo, 21 de novembro de 2010

Ouvi-dor

Rio de Janeiro, centro da cidade, sábado, qualquer hora do fim do dia. A cidade está só começando, e o horário de verão nos permite pelo menos mais 1 hora e meia de extensão da vida.
Enquanto o sol não vai embora ainda resta alguma expectativa do algo a mais.
Um samba ecoa de algum canto dessa localidade, poucas pessoas trafegam pelo centro. Existe uma calma e permanência. Num sábado despretensioso ninguém corre contra o expediente. A cidade pode ser assim admirada, assim como as esposas que durante a semana não ganham o olhar dos maridos super ocupados, elas contam com a sorte que no fim de semana eles as olhem e as contemplem, e comentem sobre o novo corte de cabelo.
O centro da cidade é mais ou menos assim, muito procurado, bem requisitado, mas quase nunca notado.
 O samba aumenta, vem do outro lado da Avenida Rio Branco. Nada, nem menos a constante ameaça das ruas consegue inibir a vontade de chegar aonde surge a música.
O vazio das ruas e o pouco sol que ainda dá as caras são as únicas testemunhas do que acontece nesse momento. Acontece um fim de tarde com uma cuíca ao fundo.
Ao chegar ao lugar de onde vem o som tudo parece diferente. É onde pulsa o coração da cidade num sábado que ela devia dormir.
São 18:34. Ninguém vê muita razão para ir embora.
 “Pessoal, a cidade está bem cansada, trabalhou a semana toda e segunda volta ao batente, vocês poderiam se retirar.”
Ninguém liga muito para o aviso, e a cidade não se importa. O horário de verão nos deixa esticar e pensar que ainda são apenas 4 da tarde...
Uma chuva leve cai, há correria para debaixo das marquises, instrumentos de som são guardados as pressas, moças se preocupam com a impermeabilidade dos cabelos, os copos de cerveja são devidamente protegidos de qualquer respingar da chuva.
Mas a chuva não espanta os foliões fora de época, alguém começa um batuque em uma mesa, logo contagia outros mais, as moças esquecem os cabelos, os rapazes tiram a blusa molhada.
No relógio ainda são 18:56...só as 7 e pouca vai escurecer, nem a chuva fez escurecer tanto brilho.
A cidade não quer descansar ainda, não se incomoda com tanta algazarra e batuque, ela está se deleitando, ela está sendo contemplada, e para ela que trabalha a semana toda embaixo de chuva ou sol e não ganha nem um sorriso dos visitantes apressados, para ela isso é mais que samba no fim da tarde, para ela é praticamente felicidade...e olha que ainda nem chegou o carnaval.


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