quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quando essa onda passar...

 
“Quando essa onda passar vou te levar nas favelas, para que vejas do alto como a cidade é bela”  
    Estou meio que embarcando na letra do Martinho da Vila nesse fim de noite, quarto dia da Guerra civil não-oficial, sem saber se ir para o alto ou ficar por aqui faz alguma diferença.
Depois do dia de hoje deu até vontade de ter “uma casa no campo, onde eu posso ficar no tamanho da paz”, e a idéia de carneiros e cabras pastando solenes
no meu jardim”
me pareceu agradabilíssima.
Essa ultima onda que deixou a minha cidade em chamas nos últimos dias foi chegando cada vez mais perto de quem nem se envolve com as turbulências da cidade. Em pleno novembro o Rio de Janeiro deveria estar em chamas pelo calor, que esse ano até ficou com medo de chegar à cidade...pelo menos o calor não precisa dos meios de transporte incendiados para chegar aqui.
Esse não é um texto de protesto e nem manifesto contra governantes, não é um tentativa de apontar os culpados e os cúmplices, Tropa de elite 3 ta ai pra isso, rapá!
A minha singela intenção é dizer que nem sei mais que Cidade é essa que tanto falam...temos várias na verdade, tem a cidade que vai sediar as Olimpíadas, e os jogos da Copa, a cidade que detém uma das novas sete maravilhas do mundo, a cidade que é locação de Crepúsculo (veja que bacana! Argh!), tem a cidade do Brizola, do casal Garotinho, e a do Cabral, tem a cidade dos sonhos do Capitão Nascimento, tem a cidade do  funk, do samba, do carnaval, da “cerveja gelada na esquina como se espantasse o mal”, a cidade do Rock in Rio, a cidade de helicóptero atingido, tem a cidade do Marcinho VP e a do Elias Maluco, tem a cidade do asfalto e da favela, a cidade das mais belas praias e a das mais certeiras balas perdidas.
Eu nem conheço mais a minha cidade, não sei onde ela se localiza e nem sei quem habita ela. Ela partiu-se em pedaços assim como todos nós, cada um em suas casas trancafiados seja no asfalto ou nas favelas.
É nesse período de guerra em que as relações aqui se definem bem, é onde intimamente separamos quem é quem. As relações se estremecem, e a cidade é verdadeiramente partida. É o momento que a patroa moradora de Ipanema e a empregada, habitante de outra cidade chamada Morro do Alemão se olham como quase rivais e combatentes de uma guerra que nenhuma das duas começou. Os professores dos colégios públicos olham seus alunos, com seus uniformes mal lavados da prefeitura como o futuro do tráfico. O executivo do centro da cidade olha com desconfiança para o camelô da Uruguaiana, as dondocas que vão fazer as unhas no salão não trocam muitas palavras com as manicures que constantemente estariam fofocando sobre amenidades incomuns as duas.
É sutil, mas a gente faz uma guerrinha no nosso intimo perverso, quase como uma delimitação de território. Acabamos por esquecer a quem devemos verdadeiramente declarar guerra.
Dormir hoje já é uma batalha perdida, o sono deve estar perambulando pelas ruas. A batalha na cidade não pode ser encarada como perdida jamais, apesar de ainda termos muitas batalhas até 2016, o ano da pacificação.
A minha torcida é que em algum dia nesses seis anos a cidade realmente se encontre, se reconheça não como um dia foi, mas como ela é, uma cidade capaz de acoplar essa miscigenação social e ter enfim, solo seguro para que essas pessoas possam conviver sem desconfiança e sem repartir a cidade.
Quando essa onda passar vou querer  redescobrir o Rio que tem nessa música ai embaixo...

http://www.youtube.com/watch?v=2q5zgzxqol8

Um comentário:

  1. Mas a cerveja gelada na esquina, de fato, espanta o mal
    É como uma prece

    um beijo Juracy

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