quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Gosto de adeus

Hoje o dia está se fazendo em adeuses. Adeus eu, adeus tu, adeus nós, adeus lugar. O fim do ano carrega a responsabilidade de dar conta de um ano inteirinho, das despedidas, das desculpas, das reconciliações, dos reencontros.
Esse fim de ano está com os ombros pesados, cheio de responsabilidades e obrigações a serem cumpridas antes da meia-noite do dia trinta e um.
Ao mesmo tempo ele é a nossa segunda chance, porque é nos quinze do segundo tempo que vamos acertar nossos ponteiros, tentar deixar nos eixos o que a falta de tempo não nos deixou fazer durante todo ano.
Não sei se só eu sinto essa melancolia transvestida de felicidade, de euforia que surge no fim do ano. Eu sinto essa melancolia impregnada nas propagandas de fim de ano, no Roberto Carlos cantando o jingle de natal da Globo, nos shoppings entupidos. A nossa sorte é que nascemos em um país tropical, aonde não tem neve para nos deprimir mais ainda, pelo contrário, temos o sol, e o prenúncio de uma temporada cheia de energia, cores e insolação.  

Hoje ó dia está se fazendo em adeuses. Adeus rua, adeus palmeiras, adeus açaí com pão de queijo. Até o bife de filé mignon do almoço tava com gosto de último. Quase falei com o rapaz  que frita os bifes “Olha, vê se capricha que hoje é a última vez que eu como aqui!”, como se ele fosse se compadecer da minha ausência pelo próximo ano. No restaurante comi o meu predileto, o bife com batata doce, combinação que eu mesma criei e me viciei. Em homenagem ao dia comi com muito gosto, gosto que não vou mais sentir daqui a pouco.

Hoje o dia está se fazendo em adeuses. Até o 435 chega a dar saudade, a correria do meio dia. Sou muito apegada às coisas, até do que eu não gosto eu me apego e sinto falta depois. Acho que tudo que faz parte do nosso dia a dia, do nosso cotidiano, mesmo que chato ou ruim, quando se acaba abre-se um vácuo, um espaço que precisa ser novamente preenchido. Eu sentia uma dor nas costas horrível há uns anos atrás, tomava remédios, fazia fisioterapia, entrei na yoga para melhorar, e quando finalmente me vi livre dela me bateu um vazio imenso, senti falta da rotina, senti falta do que é habitual. Senti falta do que reclamar.

Sinto falta de coisas comuns. Sinto falta do que me é comum. Sinto falta do que me faz sentir nem tão comum.




quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Até o fundo

Palavras que não consolam mais
E a escrita que não é mais salvação
O precipício é um alento
É tentação, é afago, é sossego
Dou um pulo
Salto
E me salvo

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Dizem que eu sou louco

Serei eu que tipo de louca?
Que tipo de mal insano eu devo carregar em mim?
Penso nos loucos da minha rua. A minha rua habita loucos aos montes.
Penso na Maluquinha do cuspe, que cospe feito atiradeira no rosto de quem passa despercebido, ela também grita, urina e defeca no chão da rua sem o menor pudor, afinal, é louca! E aos loucos é permitido quase todos os tipos de atos. Aos loucos é permitida uma espécie de liberdade única. Que nós, os sãos, não encontramos nunca.
Tem também a Doida do fogo, que cospe fogo pelas ventas, desce a rua com seu isqueiro e uma garrafinha de álcool, sempre pronta a nos surpreender com sua habilidade em pirotecnia.
Logo depois dela, vem descendo o Doido atormentado, não que todos eles não sejam atormentados, mas esse nos deixa claro todo dia seu transtorno. É culpa de um filho da puta que o levou mulher e filho e ainda de lambuja, todo o seu dinheiro. Essa versão é a que ele esbraveja aos quatro ventos, e faz promessa de morte ao invisível, sempre ameaçando o vento com uma garrafa ou pedaço de madeira.
Antes tarde do que nunca, vem o Louco da madrugada. Eu não sei por que, mas ele sempre vem depois da meia noite. Os outros loucos perambulam e fazem seu protesto em plena luz do dia mesmo. Já este prefere a noite e sua calmaria. Grita nomes em vão, xinga até sua última geração, mas não faz mal a ninguém.
Estes são loucos com razão, se é que há alguma razão na loucura...Acredito que haja. Não sei o que dizer da minha loucura. Como explicar uma loucura que não me deixa dormir às quatro horas da manhã? Que deixa acordada à contemplar o teto e buscar nele solução? Que faz tremer a mente e tudo o que sobre de razão nela?
Eu sei que me cansei dela, dessa minha loucura.. Não sei fazer um espetáculo do porte dos loucos da rua, logo, se não sei fazer loucura com tudo que ela tem direito, sou obrigada a me retirar da categoria.
Abro espaço aos loucos de verdade, aos criativos e inventivos, os capazes de viajarem para outros mundos e serem o que der para ser. A mim, cabe apenas uma insignificância nesse ramo. Não, não passei no teste. Não sou louca, só perdi o sono por algo que não valia muito a pena. 

                                         

                                               

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O índio caído

Era a minha parte favorita da viagem a Campos. Eu viajo para Campos dos Goytacazes desde que me entendo por gente, freqüento tanto e faço tão pouca coisa por lá que nem posso mais considerar uma viagem de verdade. Mas após as quatro longas horas de viagem, pela BR-101, recheadas de sanduíches e biscoitos para distrair a barriga havia algo no fim da viagem que quando criança era, para mim, praticamente o pote de ouro no fim do arco-íris.
A cidade de Campos era terra dos índios Goitacás e como referência ao seu passado histórico fora erguida a estátua de um índio fazendo alusão aos verdadeiros representantes daquela terra. Como todo índio que se preze, o índio Campista vestia uma saia e era munido de um belo e poderoso arco e flecha. Eu não sei dizer, mas aquele indígena exercia um grande fascínio sobre mim, e lá na minha casa quando se anunciava a ida para Campos eu logo pensava “Eba! Vai ser dia de índio!”.
Mais importante que ver tia, avó, primos ou festa de São Salvador (a quem interessar possa este é o padroeiro da cidade do norte fluminense), o índio era o grande carro chefe da cidade na minha humilde opinião infantil. Ser recebida por ele de braços abertos, ou melhor, de arco e flecha na mão, era o máximo. Essa recepção despertava em mim a idéia de que uma aventura estava prestes a começar.
O tempo passou, os governantes mudaram, Garotinhos e Rosinhas se proliferaram, e a modernidade com seu ar de colonizador derrubou a estátua do índio. A cidade passou por um período de turbulência na política, mas sua economia se destacou pela exploração de petróleo na Bacia de Campos.
Mudou-se o contexto, mudou-se o foco. O que era para ser rural virou urbano. O que era para contar história contou futuro. O que era para ser valorizado foi tombado e no pior sentido da palavra.
Derrubou-se a estátua do índio e em seu lugar reina uma horripilante estrutura representando as máquinas que extraem petróleo na plataforma. É como se a revolução industrial estivesse devastado os nativos de Campos. Aí, você em diz “Mas é bem mais moderno”, “É sinal de novos tempos”, “Mostra o desenvolvimento da cidade”. E eu te digo ”É assim que se aniquila o passado”, como se faz o presente e se programa o futuro, sem olhar para o passado? Eu vejo um atropelamento da praticidade sobre tudo o que contou a história.
Ao observar as cidades notamos aqueles prédios velhos do início do século passado tentando sobreviver, quase que se afogando no meio de tanta obra, prédios de concreto e arranhas céus, que surgem no lugar do que é antigo. Toda história é varrida de nossas memórias e substituída por um belo prédio de concreto. As cidades contam sua história, a cada velha casa, e cada fachada moribunda é uma página do seu passado.
No nosso mundo hoje sei que não há tempo para ontem. Mas ontem nem faz tanto tempo assim, o ontem acabou a vinte e quatro horas atrás. A modernidade ou os chamados “novos tempos” já atropelaram tanto os resquícios de uma história que hoje a modernidade, com suas novidades e atualizações a cada segundo, também já é passado. Somos todos sucumbidos pelo tempo que corre demais.
O índio do Trevo em Campos não conseguiu se manter como dono da terra. Araribóia em Niterói que se cuide, e os indígenas da Praça Tiradentes podem estar com os dias contados. E a qualquer momento, quando estivermos muito absortos com nossos smart phone ou Iphones, sem atenção ao que ocorre no nosso redor, neste momento exato, seremos também sucumbidos pela velocidade e pelo fato de sermos tão descartáveis quanto qualquer estátua em uma cidade.

                 

                                    Aqui jaz um Goitacás

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Olha aí, é o meu guri

“Bola de meia, bola de gude, o solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão”
 (Milton Nascimento- bola de meia, bola de gude)

É mais ou menos como na canção acima que eu vejo a história deste garoto pelos corredores da Universidade. A Universidade de Filosofia, História e Ciências Sociais foi o berço do menino, depois seu chiqueirinho, e depois, foi lá que ensaiou os primeiros passos e hoje corre feito um desvairado com energia e entusiasmo invejados pelas múmias que lá habitam.
Os pais do menino trabalham na cantina da Universidade desde antes do seu nascimento, dentro da barriga da mãe ouvia falar das provas finais, da esticadinha depois da aula, da discussão sobre as eleições para o Centro Acadêmico.
 Para dar uma incrementada no ambiente no qual fora imposto, ele lança mão da bola de gude, do peão, da bola, não o vejo com os Nintendos da vida, e outras parafernálias do mundo contemporâneo infantil.
Eu vejo o menino crescer entre as paredes da mais alta intelectualidade da cidade, entre Nietzsche e Foucault, tocando a bola para Walter Benjamim e fazendo um drible em cima de Kant. O menino, em seu uniforme surrado e que não teve o prazer de conhecer um amaciante, brinca de deslizar pelos corredores. É uma de suas brincadeiras favoritas, ainda mais depois que o chão é lavado e banhado com o extra-brilho, pela Dona Ana, uma das faxineiras da faculdade.
Enquanto ele desliza naquele vale de intelectualidade, onde mestres e doutores discutem fervorosamente a metafísica e problematizam o pensamento, o garoto luta contra dragões, cai em um ninho de serpentes, combate piratas e derrota um exército de mortos-vivos.
Nesses 8 anos de experiência universitária, ele já viu um pouco de tudo. E transita por todos os grupos, não tem preconceito de tribo. Vai no andar em que a fumaça de cheiro diferente incorpora as conversas dos estudantes, porém a fumaça não o incomoda. Como o menino não tem convencionalismos ele ouve com atenção ao violão do rapaz, um barbudo e com roupas mais sujas que a sua, que está na roda com outros rapazes e moças que passam o cigarro um para o outro, em uma pequena roda, como se brincassem de ciranda na imaginação do menino.
No outro andar ele entra no Centro Acadêmico, a discussão de hoje é o direito por mais poder de opinião nas decisões da reitoria. Um estudante fala para os outros colegas em cima de uma mesa velha. Ele esbraveja sua causa e os diretos dos estudantes, e que eles deveriam se unir e reivindicar, mas na imaginação do menino o estudante se transforma em um Rei poderosíssimo e que convoca seu exército para o combate das tropas inimigas.
Ele gosta muito de entrar sorrateiramente na biblioteca ou nas salas de aula (na sala de aula da sua escola ele não é muito freqüentador), onde os alunos estudam e discutem a Civilização helenística, os Impérios Romano e Bizantino, e também as Revoluções Sociais e as Ditaduras na América Latina. O menino ficava num cantinho, calado sempre com um livro a folhear as páginas e pousar os olhos em nomes bizaríssimos como Xenofonte, Tucídides, Heródoto, Teodorico, e povos como os turcos otomanos, visigodos, ostrogodos! Entre uma aula e outra, entre uma discussão no café da universidade, e um grupo de estudantes concluindo o trabalho do semestre, o menino viajava no tempo e abusava do anacronismo, Carlos Magno e Napoleão duelavam, Romanos derrubavam a Bastilha, o Cavalo de Tróia invadia a Rússia e derrubava o Czar. Para ele não tinha tempo de ninguém. O tempo e as histórias estavam na sua cabeça e era a imaginação que determinava temporalidade, século e batalhas. E Príncipes e princesas trocavam de par sem a menor cerimônia, Maria Antonieta se arranja com D. Pedro I, Ana Bolena largou Henrique VIII e foi ciscar no quintal do Simon Bolívar, Lutero largou a religião e foi viver feliz ao lado da Princesa Isabel!
E dessa maneira o menino foi fazendo história na Universidade, todo mundo sabia seu nome, os meninos brincavam com ele de bola de gude e os ensinaram a jogar buraco. As meninas o achavam uma graça, mesmo que toda vez ele fosse se esconder da chinelada da mãe no banheiro feminino!
Para ele nada daquilo parecia chato. Chato era ir pra escola, ter que estudar matemática e aturar os moleques mais velhos pegando no pé dele. A vida nos corredores em cada andar até podia ser sozinha, mas lhe rendia muita coisa para contar aos colegas. Mas mesmo com tanta informação, tanto nome estranho que foi conhecendo, tanta coisa que ele foi descobrindo, mesmo com essa bisbilhotice toda, nada das notas do boletim da escola melhorar!




domingo, 17 de julho de 2011

A arte subiu no telhado

Ontem à noite fui convidada por uma amiga a assistir um espetáculo em Cartaz no Oi Casa Grande, no Leblon. “Um violinista no telhado” em sua versão original foi um grande sucesso na Broadway por muitos anos e conta a história de judeus que vivem em uma aldeia, praticamente isolados do resto da Rússia czarista em 1905. Parece um enredo triste e sombrio, mas não é. O título da peça é explicado logo no início pelo personagem principal, o leiteiro Tevye, na tradição judaica o violinista fica no telhado tocando seu violino para representar o equilíbrio, os deslocamentos e instabilidade que o próprio povo judeu  atravessa em toda a sua trajetória na história.
Mas eu não sabia nada disso até minha amiga surgir com dois ingressos e me convidar para peça. Eu prontamente aceitei, fazia bastante tempo que não ia ao teatro. E perguntei “Qual peça?” “Ah sim! Já ouvi falar sim, obviamente que sei que se trata de uma peça importante, só não sabia que estava em cartaz no Brasil”.
Chegando ao Teatro olho para o cartaz do espetáculo leio os nomes de José Mayer e Soraya Ravenle “eles estão na peça?”-pensei alto, me dei conta que não sabia nem quem atuava na peça, nem os protagonistas e nem os outros 60 atores, desconhecidos pelo grande público.
Já sentadas, minha amiga disse que se tratava de um musical-“É um musical??" - indaguei surpresa- “Eu adoro musicais!!”. Esta era outra informação crucial que eu não tinha sobre o espetáculo.
Pouco antes de o espetáculo começar sussurro no ouvido dela, “mas sobre o que é essa peça?”, a luz se apaga, e entre a minha pergunta, o silêncio dela e a cortina se abrindo, eu percebi que nada sabia sobre o que eu estava prestes a conhecer.
O único pensamento que passava pela minha cabeça repetidamente enquanto os atores cantavam, dançavam e interpretavam era que as pessoas precisavam ver aquilo. No intervalo da peça eu dizia isso para minha amiga, que mãe, pai, irmão, papagaio e periquito deveriam ter o mesmo privilégio que eu estava tendo.
Mas eles não teriam, e eu não teria se não estivesse a convite de alguém. A maioria da nossa população- me refiro tanto a grande massa, quanto  uma classe média sem tanta possibilidade de acesso- são constantemente acusados e julgados como desapreciadores da arte e da cultura. Segundo os porta vozes da Nação, o povo não se interessa pela história, pela nossa cultura, nosso folclore, pela leitura e arte em geral. “O povo é ignorante!”. “O povo é insensível!”. “O povo é aculturado!”. “O povo só têm ouvidos e olhos para o funk e o Big Brother!”.
Mas eu ouso afirmar, com grande convicção, que o povo gosta, se identifica com a cultura, porque não tem como não gostar. Enquanto eu assistia ao espetáculo ontem,  me emocionei por várias vezes, e pensei quem não se emocionaria com tamanha beleza e originalidade?
Não é que o povo não goste da arte, é que o povo não conhece a arte. Arte custa caro. Pois quando não custa, quando é barateada para comunidades e afins terem algum acesso à ela, a arte é capaz de transformar, ela encanta, ela realmente se define como arte, e aqueles que vivem tão à margem dela são capazes de se identificar. 
Eu não me encantei pelo espetáculo e o apreciei enquanto arte porque sou universitária e tenho acesso aos centros culturais e leio livros, não é por isso! A razão da minha emoção é que sou humana, e nós humanos somos padecidos do dom da sensibilidade. E, é esta que nos conduz a enxergar o que há por trás de uma obra de arte, de um belo filme, uma peça de teatro, uma interpretação. Não precisa ser rico para saber que algo é bom. Às vezes, algumas pessoas não desenvolvem sua sensibilidade apreciativa exatamente por não ter acesso as belezas produzidas na cultura.
A distância que a produção de cultura e o governo fazem entre o que é produzido e a massa é que impede cada vez mais o reconhecimento da cultura como algo apreciável e bom para eles. Elitizar a cultura assassina as pessoas, as deixam ainda mais carentes e inferiorizadas, a conseqüência disso são as notícias de jornal e que mais tarde viram enredo para a dramaturgia corrigir.  



    

domingo, 8 de maio de 2011

casamento real x vida real

     O mega e sensacionalista casamento do século entre o príncipe encantado com a plebéia está nos deixando emocionados e românticos ou já está dando no saco? Será que voltamos à era dos príncipes em cavalos brancos e suas gatas borralheiras? Será tempos de moças em suas torres resgatadas por seus heróis? Ou então, esqueçamos a historinha e sejamos contemporâneos e conscientes (e céticos!) e analisemos apenas a massificação da mídia em cima de uma família Real quase decadente que se produz em chapéus e diamantes de safira só pra Inglês ver! 
Nesse texto eu vou me equilibrar em corda bamba, tanto para ter um olhar crítico desse circo matrimonial, quanto para entrar de cabeça no conto de fadas como se eu estivesse assistindo a um DVD da Disney.
Talvez seja a época perfeita para se falar em romances. Talvez o próprio mundo esteja clamando por um pouquinho mais de fantasia e emoção, não é a toa que a formula príncipe+ princesa= “felizes para sempre” está entrando tanto na moda. Quem sabe, crianças assassinadas, mulheres violentadas, jovens bombardeados, os abusados pela pedofilia, os bebês abandonados nos lixões, talvez, eles estejam pedindo por mais amor ao invés das notícias sobre suas tragédias. Mas isso é mera suposição minha...
Talvez devêssemos todos nos apaixonar. Se substituíssemos os sintomas dos apaixonados pelas ações que vemos recorrentes nos telejornais acho que todos nós agradeceríamos, não? Frio na barriga, arrepios, sorrisos, coração batendo são os sentimentos que a paixão provoca, imagina isso tudo substituindo tsunamis, terremotos, mães que jogam seus bebês nas latas de lixo, loucos a atirar em crianças, pais que abusam de suas meninas. A história da humanidade seria melhor que conto da Carochinha, né?
 
A insistência constante da mídia para entrarmos no clima do casamento real acaba por desgastar a imagem dos noivos, com programas diariamente sobre a família real, sobre o vestido de Kate, sobre o passado de Kate, sobre o casamento da falecida sogra da Kate, sobre a cor do coco da Kate, sem falar nos quizzes para saber se você é expert em assuntos da realeza. É exaustivo, mas surpreendentemente encantador para todos que são bombardeados dia a dia com a realidade nua e crua.
Sim, o casamento de William e Kate é um escapismo, e daí? Quem nunca foi pra praia espairecer, viajou para fugir dos problemas, largou a família  pois não agüentou a pressão, fugiu para casa do amiguinho porque não queria ficar de castigo, ou foi para um bar com os amigos porque não agüentava mais a mulher em casa reclamando? Os milhões de expectadores do conto de fadas real também precisam relaxar e tentar uma fuga.
Bem, vou contar aqui que minha mãe sonhava que um dia eu me tornase um membro da realeza, e a vejo suspirando vendo as imagens de Kate e William na TV imaginando que podia ser eu no lugar dela.
Pobre da minha mãe, mal sabe o que a coitada da Kate vai passar. Ela vai ter no pé dela uma rainha mãe ranzinza, um país inteiro para prestar contas, e o príncipe encantado dela já está ficando careca, daí para a barriga crescer e outras coisas começarem a cair é um pulo!
Nesse clima de conto de fadas eu digo que já encontrei meu príncipe, e ele não é calvo! Posso não ganhar o tal anel de safiras e nem usar um cinto de diamantes, mas meu príncipe cozinha para mim e me engorda a cada fim de semana, enquanto eu lavo a louça após cada refeição e pode nem ser para vocês, mas para mim isso é puro conto de fadas e eu me sinto a princesa do meu mundinho encantado.
Meu príncipe me faz rir, e acaba por me fazer rir de mim mesma. O príncipe não veio no cavalo branco mas os passeios nos transportes públicos são divertidíssimos.
Fico feliz por você princesa Kate, seja a princesa que a mídia tanto deseja ver e fazer capas de revista, e me deixa aqui sendo a princesa do meu conto de fadas.

* eu sei que o texto está meio atrasado pelo tema que aborda, mas os últimos dias me impediram de uma atualização simultânea aos acontecimentos do mundo! Como o texto já estava escrito e só precisava  de  retoques, não quis deixar de posta-lo! Beijos!

domingo, 24 de abril de 2011

Falta livros para tanto ler!

     O meu primeiro livro veio antes do primeiro amor chegar e antes da chupeta ir embora. Sim deixei a chupeta um pouco velha e lembro-me dela comigo enquanto eu lia um livrinho de um ratinho que tinha medo de escuro.  

     Lembro bem de uma grande curiosidade com os livros, mesmo sem lê-los, me fascinava as altas estantes de livros, gostava de bancar a alpinista nas prateleiras da minha mãe. Me encantava a poeira nos livros, que parece fazer parte da história que está escrita neles, sem falar na mágica  sincronia perfeita e desordenada feita pelos livros nas prateleiras, um de cada tamanho, enfileirados, altos, baixos, magros, gordos com tantas páginas. Se não fossem as biblioteconomistas diria que os livros organizam-se sozinhos, na sua própria lógica.

      A idéia de escrever sobre a leitura e os livros veio a mim no fim de semana, quando comecei a ler um livro com crônicas do João do Rio, que escreve sobre a cidade de forma tão poética e visceral, fala das ruas de forma tão humana! Eu sempre quis ler essas crônicas, até que finalmente esse encontro aconteceu. Gosto de pensar que nós, os livros e seus autores dependemos de algumas manifestações do destino, esses encontros tem que acontecer uma hora ou outra, por uma coincidência ou pelas mãos de uma pessoa especial, ou alguém muito determinado a mudar sua vida com a indicação de um livro. Mas é fato que os livros chegam até nós como  truque do destino.
    
        É um grande acontecimento quando temos a enorme deleite de adentrar em um universo nunca antes imaginado, conhecer pessoas das mais diversas personalidades, adentrar a vida delas sem pedir permissão e participar de tudo sem estar olhando o buraco da fechadura. Quando abrimos um livro estamos entrando  em um novo mundo, sendo ele sobre o que for. É fato que depois de lê-lo não somos mais os mesmo. Alguma coisa aprendemos com as leituras, daquelas páginas sugamos sua essência, sua arte, sabedoria, criatividade, nada é mais a mesma coisa depois da leitura de um livro.
 
       Eu queria poder ter esse encontro com todos os autores, leio pelo menos um livro de cada autor para ter a falsa impressão que tenho conhecimento sobre eles. Lendo apenas um livro do Jorge Amado é como se já tivesse apertado sua mão, ter lido muitos da Agatha Christie sinto como tomasse um chá com ela a cada livro, é como se eu tivesse participado de longos debates teóricos com Rousseau e Maquiavel, sei que brinquei com Ziraldo e ouvi a própria Cecília recitar suas poesias para mim. Sem falar de três encontros emocionantes com Gabriel Garcia Márquez que me tiraram o fôlego. E agora que terminei a introdução do livro do João do Rio já sinto que perambulo com ele pelas vielas e becos do Rio de Janeiro do início do século passado.
   
       Gosto dos livros perto de mim, mesmo se não vou ler todos eles, adoro a surpresa que esta dentro deles, dos segredos que guardam e tudo que tem para me revelar, gosto de ter a impressão que eles estão me olhando, estáticos, em seus lugares, esperando a hora que vou procurar por eles ,quando chegar o nosso momento de nos encontrar.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Querida vó

Não quero fazer desse um texto mórbido, nem padecido de tristeza, nem frases de efeito, nem minimizar seus problemas diante da minha perda, muito menos lições de vida, não quero o peso aqui. Vou dispensar o peso, ou melhor, vou livrar Antônia dos fardos que sempre carregou em vida e como meu último (talvez único) feito vou dar a ela, leveza!
Quando a notícia chegou não sabia exatamente as emoções que deveriam se apossar de mim, tal fato era inédito até então. É como se fosse um fim de um espetáculo realmente. A narrativa pode ser cômica ou trágica, mas o desfecho é o mesmo, a sentença é decretada, desligam-se os aparelhos, um último suspiro acontece, fecham-se as cortinas, é o ultimo ato. Dali pra frente, o que vem depois que as cortinas se fecham é só para quem acredita.
Para mim é tudo que permanece. É o que fica em mim, no entanto está indo embora. Vai-se embora tudo que me lembro e que era bom. O gosto da tangerina geladinha coberta por açúcar cristal, abacate congelado, maçã raspadinha na colher, rapadura que não é mole, mas cortadinha e dada na boca fica um doce só! Ainda guardo o cheiro do casaco e camisolas guardadas no armário com sache. Desde que me dou por gente a pele já era enrugada, os cabelos eram brancos, o corpo pequenino e cansado, mas com a força necessária para segurar essa que vos escreve no colo quando era um bebê, fanática pela boneca da Mônica.
É impressionante como a chegada da morte de alguém nos leva como num jato para o passado em comum com ela. Bem, para mim já faz parte do meu passado, para ela já deveria ser o principio do fim de uma longa jornada. O meu passado, que deveria ser o presente para ela, ainda tem cheiro de batata frita! Sim! Batata frita!
E não era batata frita comum, essas eram cortadas em quadradinhos não em tiras e dentro de toda a minha visão leiga gastronômica o fato delas serem cortadas de outra forma fazia toda diferença do mundo no sabor. As outras crianças sempre diziam que a melhor batata frita que comiam era do Mac Donald, e lá vinha eu toda metida e com uma autoridade única para afirmar que a melhor batata frita feita no mundo era a da minha avó!
Depois de comê-las num pratinho colorido de plástico, no lanche da tarde eu podia abusar do pão com mortadela ou da combinação perfeita de pão com manteiga e açúcar. Sério, eu não sei como não fui uma criança obesa.
Dentre as lembranças maravilhosas que temos da infância que inclui pique – esconde, pique-pega, aprender a andar de bicicleta, queimado, recreio, biscoito mirabel, dar comidinha para boneca, ralar o joelho ao cair na brincadeira, na base dessa pirâmide está uma AVÓ. Tem coisa que lembra mais infância do que a avó?
A minha avó tinha ainda na memória todas as gracinhas que eu fazia quando pequena, as primeiras palavras, coisas que nem minha mãe lembra mais. Tudo que eu via nela era uma pureza única, um olhar que apesar de todos os anos que carregava só guardava inocência, como uma criança que não teve tempo de brincar tudo o que devia.
No meu ultimo aniversário ela mandou me entregar um presente, uma gatinha de pelúcia rosa que mia quando leva palmadinhas. É ou não é inocência pura? A partida dela, no entanto é a minha primeira perda, é a ficha caindo (ou não ainda) que crescendo a gente acaba perdendo também. Porém uma calma incrível se instala em mim porque não sinto mais tanto medo, pois dessas perdas nascem os anjos que nos protegem. 

sábado, 12 de março de 2011

Cinzas de carnaval

Lá se foi o carnaval e assim como lhe dei eufóricas boas vindas me despeço dele e de suas plumas, paetês e cinzas.
Você se permitiu como sugeri no ultimo post? Permitiu se fantasiar, inovar, provocar, “se jogar” como dizem os populares? Se sua resposta foi sim, feliz ano novo para você que lavou a alma e sujou os pés, chinelos e tênis nas poças deixadas pelas chuvas, que foi persona non grata nesse carnaval.
O clima fantasiou-se com um céu parcialmente nublado, cinza sem brilhos ou paetês e com a danada de uma chuvinha. Mas quer saber? Ela nem abalou os foliões, ê povo que gosta de pular!
No centro da cidade a indústria das escolas de samba do carnaval deu seu show tão esperado.  Ao fim de todo o espetáculo com direito a homens que perdiam suas cabeças, fantasias e alegorias que brotaram das cinzas, King Kong comendo Valeska, mesmo com todas as atrações a indústria só é incapaz de inovar e nos surpreender com os resultados finais.
Qual é a linha de produção que conduz e controla essa indústria? Fordismo? Taylorismo? Picaretismo? Corrupcionismo?? 
 
Saúdo a massa de manobra responsável por colocar um carnaval bonito para turista ver, essa talentosíssima mão de obra que viaja de trem, ônibus e metro para fazer os dois dias desse espetáculo.
Aplaudo os grandes artistas, artesãos, os que arquitetam o carnaval com suas mentes fantásticas e sem limites.
Acho o fim da picada os donos das fábricas e os investidores. Os senhores investidores dessa indústria transformaram beleza, arte e tradição em máquina de lucro, em galinha dos ovos de ouro.
Na contra mão das escolas de samba desponta de toda região da cidade uma nova linha de produção, surgem os blocos de rua. Eles podem não fazer concorrência com a indústria carnavalesca, mas aparecem no cenário cultural-economico como alternativa para os que fogem ou não tem como financiar uma participação no carnaval de elite.  
 
Os blocos de rua carregam por trás de sua euforia uma bela historia das ruas, seus antepassados eram os cordões de carnaval embalados pelas marchinhas de Chiquinha Gonzaga, e tempos depois Braguinha também embalou os pulos dos foliões.
Os blocos antes tinham a participação especial de colombinas, pierrôs, arlequins, mascarados, reis, rainhas, hoje recebem fantasias das mais criativas, tem lugar para as clássicas bruxinhas, palhaços, piratas, baianas, às inovadoras como cisne negro, surfista prateado, ambulante, Bope! Abusar da criatividade é a ordem!
Que essa nova fábrica de proporcionar alegria não se renda ao sistema e coloque um cordão de isolamento que separe os foliões que usam abadas e os que não o compram..Não vamos uniformizar as pessoas! Que os abadas não tomem conta do nosso carnaval como aconteceu na Bahia.!Que possamos sempre nos fantasiar, customizar e criar personagens com os retalhos e cetins que temos a mão!
Que nossa liberdade de expressão e criação não seja oprimida pela padronização como aconteceu com os carnavais das escolas de samba. Em 2012 quero ver um carnaval cada vez mais livre e uma cidade bem organizada por aqueles que vivem a fazer propaganda e exigir de nós nossa atitude de cidadão, porque o resto é a alegria de cada um.

TROVADORES URBANOS - CARNAVAL

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Enquanto o carnaval não vem...

Nesse fevereiro não teve carnaval. Para a desalegria de milhões de colombinas e arlequins ele não veio cedo dessa vez. A boa noticia é que fevereiro passou veloz. Como se não bastasse já termos a sensação de que o ano passa mais rápido que o tal do meteoro da paixão, o ansioso do mês de fevereiro tem preguiça de durar demais e se recolhe antes do ato final com seus míseros 28 dias. Junto com ele vai o nosso querido horário de verão e suas promessas de tardes mais longas, porém ele deixa para março um calor que chega a deixar nossa alma bronzeada de tão quente!
Fevereiro sai de cena, entra março e suas águas para cortarem as asinhas desse verão. Por enquanto deixa o verão, porque carnaval na chuva nem vendedor ambulante de guarda-chuvas da Uruguaiana deve gostar. 
E lá vem o carnaval, com suas serpentinas, confetes, purpurina, máscaras, banheiros químicos, marchinas, alegorias e adereços. Lá vem ele todo glamoroso e tomando conta do pedaço. Se o carnaval fosse uma pessoa seria desses tios que todo mundo tem na família, meio ausente, não aparece no natal, nem no aniversário da vovó, não liga para saber se a família tá bem, e não manda chocolate para as crianças na páscoa, mas quando ele aparece de surpresa, repentinamente, todos se reúnem para receber aquele que representa a alegria da casa, a vovó bate palminhas, o vovô abre os braços, os irmãos cantam e dançam e as crianças pulam feito pipoquinhas na panela.
Apesar de falarem mal dele por um tempo, quase ninguém resiste aos seus encantos quando ele chega. Até se arrumam e tiram dos armários suas melhores fantasias.
O melhor do “Tiozão” chegar só em março é que o ano ainda nem começou. Estamos praticamente em clima de réveillon, o ano está só começando para nós ainda, então temos tempo de fazer resoluções e reorganizar nossas vidas. Para mim, nós brasileiros temos a oportunidade de começar do zero 2 vezes.
Carnaval é renovação, além de diversão, bebedeira, calorias perdidas em blocos, ele recarrega as baterias, energiza a mente, o corpo e dá um banho de suor e cerveja na alma.  Mas atenção! Só para quem se permitir a viver e se entregar a seus deleites.
Não tenha pressa para o carnaval chegar, deixe ele vir com calma e na dose certa, enquanto ele não vem nos sobra tempo para aproveitar o ano aos poucos. Depois do carnaval os dias voam, as  horas transformassem em segundos e a vida agita-se como se vivêssemos imersos num liquidificador.
 Então, recomece o seu ano, refaça suas resoluções, estoure o champanhe novamente! Só nós temos essa chance duas vezes, vista a fantasia e escolha o que vai ser pelo resto desse ano. Depois que o carnaval passar a vida começa de novo. Até agora foi tudo ensaio técnico, corra atrás do seu bloco e entra nessa avenida de peito aberto e samba no pé.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Adeus, Rio.

Rio, 15 de janeiro de 2011.
Da janela da onde escrevo a vista que tenho mais parece uma pintura impecável de algum artista que só vai ser revelado ao morrer. O que eu vejo é tão lindo que nem sei dar nome. É um fim de tarde (em tempos de horário de verão isso quer dizer que são 7 da noite), um sol que dá adeus sem vontade de ir embora, deixado pra trás, misturado com as nuvens, um tom rosa amora. A chuva que cai aqui é aquela choradinha que o céu deu depois de um dia inteiro do sol ardendo, como só ele sabe fazer. E para completar existe o mar, os mares! De uma única janela se observa várias praias, todas caminhando juntas para o fim da tarde, numa dança de ondas que mais parece ensaiada.
Se não fosse por outra tela quadrada não tão grande como a janela e nem tão admirável, jamais seria possível suspeitar que o Estado em que me encontro estava para se acabar.
De tantas outras janelas na subida da Serra a vista é outra. Ao invés de mar, existe lama No lugar das ondas em sincronia, enxurrada de tromba d’ água dos rios, ao invés do sol, chuvas torrenciais. Em oposição das nuvens rosa, olhando para o céu de lá, nuvens negras não param de se aproximar. No lugar da pintura que vejo, há um cenário de tragédia e destruição (sei que são palavras recorrentes dos telejornais, mas não consegui encontrar outras que se encaixassem tão bem). A paisagem é de mortes e mais mortes, mortes que não param de se multiplicar e tudo isso bem do lado da nossa casa.
Rios de lama, corpos nas lamas, ruas que viraram lama. Pontes partidas, estradas bloqueadas, morros que foram de encontro ao asfalto. Gente sem casa, sem eira nem beira, gente pendurada em corda, boiando em colchões, sem lenço, sem documento, sem os que dormiam ao seu lado noite da chuva, sorte daqueles que lhe sobraram um resto de vida. E tudo isso muito perto de casa.
Será esse mais um anúncio do fim dos tempos? Alguém uma vez me disse que o tal do apocalipse que tanto falam na verdade acontecerá aos poucos. Uma hora no Haiti, outra na Ilha de Sumatra, outra Nova Orleans, de pouquinho em pouquinho no Rio. Não existe um dia especifico para a catástrofe final, as destruições acontecem a cada dia, com vulcões revoltados, mares em revolução, rios tempestivos, chuvas alucinadas, temperaturas que ultrapassam todos os Celsius e Fahrenheits imagináveis.
O fim dos tempos está sendo todos os nossos dias, aos poucos nos elimina, nos manda embora desse planeta, a natureza mostra quem é a dona dessa casa e aponta com um dedo indicador os culpados de tanta revolta. O culpado se chama “nós”, em quem votamos, as ideologias que colocamos em liderança, a evolução na frente da preservação. O poder que nos rege acaba por se esquecer QUEM ou O QUE rege a todos nós.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Insensato coração

Sensatez de fato nada tem a ver com estado de plenitude que os seres apaixonados se encontram. Palavras como juízo, equilíbrio, prudência, cautela, ponderação não serão encontradas nem no Aurélio se a caso um apaixonado for procurar, o bom senso fica a ver navios, e os pés, que as pessoas mais experientes tanto nos alertam para ficar em solo firme, voam mais alto que o condor dos Andes (é o 4º pássaro a voar mais alto segundo a revista SUPER INTERESSANTE, a quem interessar possa).
Insensatez de braços abertos, se me permitem dizer, é um dos melhores estados de espírito que já vivenciei! Acredito até que o coração funcione melhor diante tamanho desapego a tudo que NÃO lhe convém. Preocupações, aborrecimentos, contas a pagar, TPM, pressões e tensões escapam por uma frestinha de uma janela que o coração criou depois de uma longa conversa com a mente. Se esse diálogo, de fato, pudesse acontecer seria mais ou menos assim:

-Faz tempo que não nos falamos, você está tão bonita!- diz o coração.
-Por que vem me desconcentrar? Estou a calcular e contabilizar as despesas do mês- rebate a mente
-Mas será que você só pensa nisso? Nunca relaxa e medita, é por isso que venho batendo tão acelerado!- se descontenta o coração
-És acelerado por natureza! Não culpe o equilíbrio que venho mantendo nesse corpo, mas vamos logo com isso...que ventos sentimentais te trazem aqui?- retruca a mente
- Não se faça de desentendida! Não é só porque você é racional, prática e fria que não está percebendo o que anda acontecendo por aqui. Precisamos trabalhar juntos nisso para que tudo aconteça da forma mais leve, harmoniosa e...
-Equilibrada! Ponderada! – exclama a mente já preocupada.
-Ora! Esqueça essa sua mania de manter tudo em ordem, não é preciso de ordem agora, nem regras muito menos juízo. Sua função vai ser eliminar tudo que venha atrapalhar meu trabalho, mandar embora tudo que não seja garantia de plenitude. Posso contar com você? – propõe um coraçãozinho todo saltitante e entusiasmado.

Seria esse o acordo perfeito que garantiria a insensatez do coração. Meu coração anda assim, querendo fazer apenas o que bem quer. Parece que criou asas, e anda desvairado com um porto seguro certo. Pouco se importa com atrasos, impedimentos, barreiras, diferenças, o certo e o errado. A distância alimenta, a saudade faz arder mais, o medo de perder faz renovar.
 Ele faz e  age como quer, tanto que ele está aqui digitando essas palavras e procurando a melhor forma de dizer como amar é pura sensatez.